Nesse tempo
Eu já fui imortal
nesse tempo
ninguém punha em causa a eternidade
tudo era possível
desde que música e sorrisos fossem braços
imaginários pelos ombros dos outros
nesse tempo
não existiam ainda as palavras
nostalgia
desespero
miséria
ou por outra
nós ainda não tínhamos ouvido essas palavras
tão ocupados tínhamos os ouvidos
com os cânticos da moda
nesse tempo
pendurei pelas paredes do meu quarto
papéis com o teu nome e tinha a certeza
de que seria o único o primeiro e o último
a minha mãe perante cada novo nome
deixava cair aos pés da porta do meu quarto
um suspiro meio sorriso
como se eu estivesse enganado
coitada da minha mãe não tinha noção do seu erro
ou então nunca tinha amado com carácter definitivo
nesse tempo
os que tinham o dobro da minha idade
eram os velhos que deixaram de acreditar
e que o diziam como se eu ou a minha vida
viesse a ser como a deles
nesse tempo
ninguém morria ou então era eu que achava
que não morria e que os outros não existiam
para morrer a não ser os que vinham nos jornais
nesse tempo
eu não sabia que havia outro tempo em que
continuo a ser imortal embora cheio de dúvidas
porque os outros afinal não são imortais e
os nomes que espalhei pelas paredes do meu quarto
pintei-lhes por cima várias cores
um dia alguém disse que os poetas são imortais
eu que já tinha escrito mais de mil poemas
ouvi uma voz a cantar
e troco a minha vida por um dia de ilusão.*
*Maria Guinot
Eu NUNCA trocaria a minha vida por um dia de ilusão.
ResponderEliminarDetesto ilusões e utopias.
Enfrentar a realidade é a minha filosofia.
O que eu penso, ou não penso, è absolutamente irrelevante para análise de uma obra literária.
O poema de hoje è uma pérola literária.
Um dos seus melhores poemas, Luís.
A soberba fotografia sintoniza com magistral poema.
O seu comentário importa e é, por isso, muito estimulante para o autor.
EliminarA poesia são apenas palavras que nascem de espíritos que são capazes de imaginar.
Tal como a Teresa, não trocaria um minuto de vida por um dia de ilusão, embora não rejeite a utopia, ferramenta que utilizo muito para trabalhar a minha poesia.
ResponderEliminarO poema e a fotografia são sublimes, mas o nome que, apaixonada, rabisquei na parede do meu quarto quando tinha 14 anos, foi o primeiro e o último.
Um forte abraço, L.!
Ninguém troca a vida por um dia de ilusão mas a ideia é poeticamente maravilhosa.
EliminarPintar paredes com nomes ou frases foi uma actividade, em prática, em fases da nossa vida militante.
Um abraço.
M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-O e recordei as pinturas e posters da parede do meu quarto repartido com uma irmã que detestava;)))
ResponderEliminarFoi bom vir aqui!
Beijos e uma boa páscoa
Situações comuns a muitos de nós... noutros tempos.
EliminarUm abraço.
Imortais só os deuses. Os poetas, até eles morrem, se não os lembramos, cabe a cada geração manter vivo o seu legado, por isso é (só) meia ilusão a sua. Uma vida e só um nome rabiscado?! Eu rabisquei vários, não muitos, porque o meu coração também é mais da permanência do que da volatilidade, ainda assim acho maravilhoso que se consiga amar mais do que uma pessoa. Um abraço
ResponderEliminarÉ assim, tornamo-nos Imortais uns aos outros. Depois de nós tudo ficará aqui.
EliminarUm abraço.
Uma bela partilha!!
ResponderEliminar.
Uma Páscoa com saúde e Paz... || Desejo que todos tenhamos uma Santa e Feliz Páscoa, extensivo a todos os nossos, e vossos Familiares e Amigos. Saúde e Paz para todo o Mundo, que bem precisa.||
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Fraterno Abraço
Sabes que mais
ResponderEliminarLido o teu escrito
Fiquei convicto
Que estamos
rodeados de imortais
Bom dia Luís,
ResponderEliminarBelo e profundo este poema!
A vida e as emoções que nos vai despertando ao longo do tempo.
Gostei imenso.
Beijinhos e uma santa e feliz Páscoa.
Emília