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Os objectos nos contemplam


Não tenho hoje dúvidas 

que é durante o nosso sono

que os objectos que nos cercam

se movimentam

para nos contemplarem

na nossa morte aparente

e tudo acontece nos dias

em que limpámos o pó 

que se encontrava visível 

assim 

os objectos que se movimentam

não deixam vestígios 


é sobre a capacidade

de ainda sermos inocentes

que os objectos que se movimentam 

exercem o seu mistério 

admiro o seu rigor de ocuparem 

depois o seu lugar exacto

no respeito das minhas decisões 

e do meu poder sobre a sua existência


eu finjo que não percebo

e escrevo um poema às escondidas.



 

13 comentários:

  1. Tenho poucos objectos e não escrevo como tu, porque do amontado da foto fizeste um magnífico poema. Parabéns!
    Beijos e um bom dia

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  2. Rendo preito ao autor destas pequenas maravilhas que são a fotografia e o poema! :)

    Como não consigo ficar parada e de pé durante mais do que alguns segundos, condenei à cegueira os livros, telas, roupas, fotos e papelada burocrática que me rodeia. De quando em quando, num assomo de coragem que me deixa toda partida durante alguns dias, lá limpo o "tête a tête" em imitação de pedra sabão que está sobre a empoeirada mesinha de chá, ou o retrato inacabado do meu pai ainda menino pintado pelo bisavô José de Brito... Talvez os desencante nesses arroubos de coragem e eles venham contemplar o meu sono...

    Um grande abraço, L.!

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    1. Os nossos objectos nos contemplam no nosso sono... e talvez se movam para estarem mais próximos de nós, a nossa ingenuidade não o admite.
      Não estamos sozinhos.
      Um abraço.

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  3. Eu, minimalista, fiquei encantada com o poema e a fotografia.
    Os poetas podem dar-se ao luxo de armazenar tralha, à qual transformam em arte e poesia.
    Uma mulher banal como eu, tem que separar de todos os objetos inúteis.
    Ando na famosa limpeza da primavera 🌷

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    1. A banalidade existe em todos nós, em muitos na tralha que arrastam, noutros no que vão deixando pelo caminho. Nem os poetas estão imunes à banalidade.

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  4. Boa tarde Luís,
    Um poema magnífico que muito apreciei.
    Nunca tinha pensado que às sextas feiras, dia em que limpo o pó, durante a noite, os objetos vigiassem o meu sono.
    Só de Poetas geniais.
    Beijinhos,
    Emília

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    1. Acontecem muitas coisas, durante o nosso sono, que nunca saberemos.
      Um abraço.

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  5. Não me diga que essa tralha toda - ou melhor, esse amontoado de objectos - está tudo em sua casa, poeta...

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    1. ...se for colecionador de inutilidades, não me admiro nada que essas coisas ganhem vida, durante o seu sono, e queiram ir para outro lado.

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    2. Nada do que está na foto me pertence.

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  6. Não tenho muitos objectos.
    Só mesmo os necessários.
    Se desconfiar que me olham durante o sono.
    Coitados, vão directamente para onde não os veja mais.
    Ah ah ah
    Gostei da foto e da critividade do Poeta.
    :)

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