Foto de Daniel Filipe Rodrigues 



Na recepção da terra 


Falo do silêncio 

da marcha paralela à ternura 

de um riacho crepitando 

e do aroma da terra 

lavrada para a semeadura

das palavras ___ as fecundas

sem sangue

falo da vista cansada

em exercício de descontração 

sobre a mancha verde da serra

a humidade das lágrimas  

é o que o chão pede  

para o início dos poemas 

sem sangue 


as pedras imóveis colorindo o silêncio

recebem o verde do musgo apaziguador

pedras milenares mas 

sem tempo conhecido

porque modestas na paisagem 


cheguei

sento-me com um copo de vinho

em frente 

sobre uma mesa fria de mármore 

uma aristocrática pedra

e falo do silêncio ___ do silêncio 

e da vista cansada ___ cansada

fico imóvel como uma pedra

só o coração se diz novo

o corpo pede o direito ao

quinhão de musgo na festa

da recepção que a terra lhe fará


abro o livro na página marcada

e por aqui me fico

até as flores se sentarem à minha mesa.



 

 

17 comentários:

  1. Rogério V. Pereira6 de junho de 2024 às 01:18

    Que as flores não tardem
    E se vermelhas
    que sejam cravos

    ResponderEliminar
  2. Que esta onda negativa passe rápido e que tenhamos paz bem florida de preferência encarnada a minha cor preferida!
    Beijos e um bom dia

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. As ondas nem sempre correspondem ao estado dos mares dos autores. Os poemas nascem sem se saber de onde.
      Bom Dia.
      Um abraço.

      Eliminar
  3. En un paraje tan idílico, firmaría yo, para descansar siquiera unos cuantos de días.
    Un abrazo.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Estoy de acuerdo, es un lugar donde la naturaleza nos calma.
      Un abrazo.

      Eliminar
  4. Este poema tem mais esperança ou só sou eu a ler:) Fixei-me no coração novo e nas flores que se sentam à mesa...apesar da vista cansada...é tão bonito.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É interessante como as interpretações dos leitores podem ser tão diferentes. Esse é um dos encantos da poesia.
      Um abraço.

      Eliminar
  5. O ultimo elogio antes da partida.
    A esperança está presente, embora subtilmente.
    Um dos seus melhores poemas, poeta.
    A fotografia outra MARAVILHA do primogénito.

    ResponderEliminar
  6. Boa noite Luís,
    Um poema maravilhoso em que o Poeta, procurou a natureza, talvez para descansar, para relaxar a visão e reencontrar-se com a Poesia.
    A terra faz-nos sempre uma recepção, basta que nela repousemos os nossos desencantos ou fiquemos simplesmente a admirá-la.
    B

    ResponderEliminar
  7. Só queria acrescentar, beijinhos,mas o comentário escapou-se-me.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Simpático o seu comentário. A natureza espera-nos.
      Um abraço.

      Eliminar
  8. a natureza tem o condão de por breves momentos, apaziguar a nossa alma.
    um poema triste, com uma foto muito bela.
    bom final de semana.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. A natureza é o lugar de onde viemos e onde voltaremos.
      Bom fim de semana.
      Um abraço.

      Eliminar
  9. Boa tarde Caro Poeta/Pintor e Fotógrafo
    Um poema que nos fala de uma solidão dolorosa.
    Quando assim é, temos de procurar algo que nos amenize a alma.
    Olhar a natureza é uma boa terapia.
    Bom trabalho poético.
    Boa semana ou o que resta dela.
    :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. A natureza nunca nos deixa sozinhos.
      Bom fim de semana.
      Um abraço.

      Eliminar