O jardim da memória no Outono
Falo do Outono como se fosse
um conhecedor dos caminhos invisíveis da terra
como se da janela que tenho para o jardim da memória
não temesse a escuridão quando ela chega
mas temo
confesso
ao confessar isto para mim próprio
procuro um encontro com a beleza
ou seja
uma noite de Outono pode ter um tom cálido
e sons de cores ténues
que tornam a escuridão um soluço de surpresa
assim a imaginação corre pelas cores
ou pela ausência delas e pelos sons dentro
como se me tivessem crescido asas
na parte mais plana e oculta do meu espírito
falo do Outono
junto-me ao coro de borboletas luminosas
e aprendo com elas a construir o lugar
onde me abrigo até renascer
no dia que se segue ao escuro deste Outono
no meu jardim da memória
tudo afinal está dentro de nós
e procria.
Foto de Daniel Filipe Rodrigues
Vídeo do autor do texto
Amanhã
Meço pelo que se diz
a quantidade de lágrimas inconsoláveis
na brusca chegada da luz branca
do quarto minguante
as lágrimas nesse crepúsculo
são menos doces
são mais trágicas
e o que se diz são sempre
as palavras compostas sem critério
feitas chicote
que deixam vergões
nos lugares mais íntimos da memória
deito-me então sobre o que resta
dessa memória
e expulso-te dos meus sonhos
amanhã já nem nome terás
e as lágrimas serão inúteis.
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