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Lembras-te do sino 
nas manhãs de domingo
ainda com as portadas da noite fechadas
no momento em que a nossa pele
se casava na penumbra? 

era Outono 
mas o suor escoava-se pelo teu peito
e o som do sino da igreja da aldeia
marcava o nosso compasso
oito
nove
dez
a manhã cumpria-se 
na nossa vertigem comum que
acabava num breve pó de estrelas

lembras-te do sino 
na manhã do primeiro domingo
em que nasceste naquele lençol branco
quando era Outono
e uma lâmina de luz
que as portadas permitiam
se traçava entre o teu peito? 

nesse dia inventaste o meu rosto
que para sempre ficou o mesmo
até já não me reconhecer nele
de tanto tempo depois

valeu a pena o sangue quente
em que fiquei a arder serenamente
com o coração a bater ao compasso
do som do sino da igreja da aldeia
oito
nove 
dez
e mais sons sem fim até se cumprir 
a poesia de um lugar que nunca existiu.


Poema de amor e memória 
do amante consumido no seu próprio lume 
observado de longe a arder serenamente 
depois de feito o poema. 


 


14 comentários:

  1. Poema da memória?
    Percebe-se que sim...

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  2. Entrar nos nossos arquivos e deixar correr a imaginação.

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  3. A paixão, o desejo, a ternura num abraço profundo...a memória de amor....em palavras simples...
    Belo....
    Beijos e abraços
    Marta

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  4. Excelentes recordações tão presentes em ti! Gostei muito e a foto ficou excelente!
    Beijos e um bom domingo

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  5. Confesso que fiquei presa na fotografia.
    Um lugar maravilhoso de leitura.
    Retirava a planta 🪴 e colocava livros 📚
    E sentava-me do outro lado a pôr as minhas leituras em dia.

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  6. Es un día que no se puede olvidar.
    Me ha encantado la fotografía, que has hecho de la ventana.
    Un abrazo.

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  7. Poema onde a memória, arde na pele do Poeta.
    Lindissimo!
    A foto está muito bem enquadrada e gosto, acho uma foto bela e misteriosa.
    Boa semana.
    :)

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  8. Boa tarde Luís,
    Que poema de amor tão belo e sentido.
    Os sinos das aldeias, por vezes, marcam o compasso das nossas vidas.
    Excelente momento poético.
    Beijinhos,
    Emília

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    1. Gostaríamos que ainda fosse possível viver na paz de uma aldeia.
      Um abraço m

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