Foto do autor do texto



Suporto tudo

que o esquentador se desligue 
a meio do banho 
que tenha falta de dinheiro
num fevereiro bissexto 
que estejam esgotados os bilhetes 
para o único espectáculo de bonifrates
que não haja dinheiro
nas caixas multibanco da cidade
que chova sobre o estendal
quase seco
que sejam sem fim as greves 
nos transportes urbanos
que caia a república 
mesmo que com trovões 

suporto tudo ___ menos
a prisão inexplicável 
a uma ideia sem futuro. 


 


25 comentários:

  1. Essa prisão "inexplicável" é difícil para os outros entenderem por que o poeta ainda está tão atrelado a algo que claramente não leva a lugar algum. É uma metáfora de estagnação ou de uma "falsa liberdade", onde o poeta se engana ao acreditar que está em movimento, mas na verdade está preso a algo sem futuro.

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    1. O autor é um exilado sem qualquer hipótese de regressar ao seu lugar de origem. O autor considera a possibilidade de determinar o seu futuro.

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  2. A sensação de impotência perante a roda da Vida que gira e regressa ao mesmo lugar... sem que haja mudanças significativas...
    Beijos e abraços
    Marta

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    1. Impotência diz muito bem. Mas, a roda da vida, também é obra dos homens e das mulheres.
      Um abraço.

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  3. Há muitas coisas que suportamos, na verdade.
    Mas há as que são insuportáveis.
    Magnífico poema, gostei imenso.
    Continuação de boa semana.
    Um abraço.

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    1. Neste adiantado do calendário sabemos do que falamos.
      Um abraço.

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  4. Suportamos muita coisa no presente mas quanto ao futuro não sabemos o que irá acontecer com "tantos tachos" e sofrer antecipadamente tento não ser a minha praia! Gostei!
    Beijos e um bom dia

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    1. O futuro é um túnel com as lâmpadas todas fundidas.
      Bom Dia.
      Um abraço.

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  5. Também eu, estou assim...
    Gostei do poema em forma de desabafo....

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    1. O autor sente-se compensado quando algum leitor/a se identifica com os seus escritos.
      Um abraço.

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  6. Bom dia,Caro Amigo Pintor/Poeta e Fotógrafo

    Analisando todas as metáforas deste poema que parece simples mas talvez seja mais que isso na minha análise.
    A estrutura é fluida, quase uma enumeração de infortúnios banais, que vão ganhando força e culminam em um grito final: "suporto tudo ___ menos / a prisão inexplicável / a uma ideia sem futuro." Aqui, a repetição de "suporto tudo" funciona como um mantra, reforçando a ideia de que o eu lírico é resiliente, mas não invencível. Há um limite, e esse limite está no cerceamento do pensamento, na falta de horizonte.
    Destaco também a maneira como os versos brincam com o absurdo da vida prática – como o esquentador desligando a meio do banho ou a chuva sobre o estendal quase seco – criando uma conexão directa com o leitor.
    São imagens simples, mas universais, que servem como contraste à gravidade do último verso, ampliando o impacto emocional.
    O poema ainda carrega um tom crítico, quase político, especialmente em "que caia a república / mesmo que com trovões". A linha entre o real e o simbólico é ténue, o que abre espaço para múltiplas interpretações.
    Resumindo:
    Este poema é uma celebração da resiliência diante dos pequenos dramas quotidianos, com um desfecho que grita por liberdade e rejeita a prisão do pensamento sem futuro
    Um texto marcante, cheio de humanidade.
    Não gostei da foto escolhida para o Poema, embora bem fotografada, acho que é muito redutora.
    Boa semana
    :)







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    1. Maravilhosa reflexão que adiciona interesse ao texto que publiquei. Eu o próprio me espanto com as suas análises, que agradeço.
      Um abraço.

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  7. No segundo comentário, o poeta confessa que escreveu em seu nome, que o eu poético coincide com o eu autoral...
    Vai dissertando sobre pequenas tristezas da vida, para concluir num ápice intensamente dramático...
    Por associação de contrastes, lembrei poetas brasileiros... Um deles diria...
    'Amigo poeta, vá levando a vida com leveza, aprecie o céu e o canto do Sabiá, abrace as árvores, aspire os aromas dos jardins floridos, das matas, e das praias, maravilhe-se com as auroras e com os arrebóis... Você só tem dois jeitos, ou vive sorrindo, ou vive de braço dado com o desespero, 'cutucando' as feridas inutilmente...'

    Quanto ao poema, teria ficado ainda mais interessante se houvesse um crescendo nos desesperos da vida...
    A falta de dinheiro fecharia a primeira estrofe...
    Bom dia. Beijinho
    ~~~~

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    1. O autor pode, em determinados casos, não coincidir com o homem poético. Seria limitador escrever apenas sobre a realidade e não lançar mão da ficção. O arcano é onde se localiza a fronteira entre um e outro.
      Bom Dia
      Um abraço.

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    2. Exatamente, mas eu li os seus comentários.
      Como não disse que o seu poema estava perfeito, não apreciou a minha tentativa de ajuda e não me agradeceu...
      Tudo pelo melhor...
      ~~~~~~~~

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    3. Cara Majo Dutra, tenho muita consideração por todos os meus leitores. Reconheço que o meu comentário ao seu comentário foi muito "seco", uma descortesia inadvertida por parte do autor que já foi repreendido pelo "homem poético". Espero ser perdoado.
      Um abraço reconhecido.

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    4. Rui, não gosto que me tratem de 'cara'...
      Soa-me a mercado...
      Desculpe a sinceridade.
      ~~~

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    5. Majo Dutra, eu não me chamo Rui nem sou brasileiro.
      O tratamento por "Cara" com o significado de "Estimada" é usual e respeitoso, não tem a mesma utilização que tem no Brasil. No entanto atenderei ao seu desagrado. Peço-lhe desculpa.

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    6. Peço desculpa pelo lapso...
      Sou bem portuguesa... conheço bem a acepção da palavra, porém, soa-me a preços...
      É com empatia que lhe confesso que não gosto. Sorrisos...
      Dias bons
      ~~~~~~~

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  8. Duros los tiempos que tenemos. Las noticias que da la tv, no tiene nada más que catastrófe. Los incendios de los ha costernado al mundo entero.
    Un abrazo.

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    1. El mundo está pasando por una fase miserable. ¿Quién será salvo?
      Un abrazo.

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  9. Ah poetas ! como entende-los... rs
    Percebo que se suporta alguns desconfortos como até ficar 'sem dinheiro' em ano bissexto, a que futuro teme ,L ?
    _amanhã será o futuro e no momento é inexistente e quem depende do futuro pode estar preso ao passado.
    Não aconselho rsrs
    Beijinho L , poemas a gente lê lê melhor apreciar e se aquietar. rsrs

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    1. Reconheço a tranquilidade que as suas palavras sempre sugerem. Agradeço.
      Vamos ver como será amanhã.
      Um abraço.

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  10. Também acho que não há pior do que a falta de esperança, está muito bem dito no poema! Se bem que eu com a agua fria a meio do banho entre em depressão:)

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