Foto de Ana Luís Rodrigues 



Digo-te
nascer
como se dissesse
quero-te
como se fosse
fácil 
o mesmo que dizer
minha

digo-te
olhos
como se dissesse
existo
como se fosse
claro
o mesmo que dizer
dia

digo-te
vontade
como se dissesse
fome
como se fosse
essencial
o mesmo que dizer
montanha

dizes-me
palavras
como se dissesses
delírio 
como se fosse
areia
o mesmo que dizer
adeus. 

 

14 comentários:

  1. E eu digo-te que gostei muito do teu balançé de emoções! A foto é muito bonita!
    Beijos e um bom sábado

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    1. E eu agradeço a gentileza do comentário.
      Bom fim de semana.
      Um abraço.

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  2. Y volar con unos globos por el mundo, decir, decir, decir...
    Gracias, Nubes.
    Hay nueva entrada también en mi blog.
    Un abrazo desde Segovia.

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    1. Sería genial poder volar.
      Que tengas un buen fin de semana.
      Abrazos.

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  3. O poema descreve o processo de tornar-se sujeito por meio da linguagem: o desejo e a visão fundamentam o eu que existe, mas, no final, o excesso de palavras causa a perda da união, chegando ao “adeus”. Isso funciona como uma declaração de amor que também expõe a vulnerabilidade da linguagem. A passagem do nível existencial da “fonte do ser” para a melancolia mental de “adeus” e “areia” marca uma transição do que é a própria essência do ser para o que está desgastado, da demanda por clareza para a aceitação do indeterminado. O tom permanece sóbrio e preciso, mesmo quando atinge uma sensualidade intensa; a pretensão erudita aparece na escolha precisa de termos como nascer, olhos, vontade, montanha, palavras — bem como na organização estrutural. A dialética cria um espaço de diálogo infinito no qual amor e uma negação da linguagem coexistem.

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    1. Maravilhoso comentário. O autor nunca imaginou que a partir de uma série de simples palavras fosse possível dizer tanto. Elogio a sua capacidade de análise.
      Obrigado.

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  4. As palavras cruzam-se algures no caminho e encontram novos rumos...podem ser a verdade em si ou pura contradição...
    Mas existem no positivo e no negativo, na dor e na paixão, no sim e no não, no claro e no escuro...
    Beijos e abraços
    Marta

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    1. As palavras são umas e são outras conforme quem as diz e quem as ouve.
      Um abraço.

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  5. Boa tarde Amigo Poeta/Pintor
    Um poema que toca pela simplicidade e pela intensidade das imagens que se erguem de cada palavra dita.
    A repetição de “digo-te” e “dizes-me” constrói um jogo de espelhos onde o amor e a ausência se refletem, lembrando-nos de como a linguagem pode aproximar ou separar.
    Um poema que flui como murmúrio, mas ecoa como despedida.
    Muito criativo.
    A foto muito bem para acompanhar.
    Bom fim-de-semana.
    Um abraço.
    :)

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    1. As palavras que se proferem, às vezes em aflição, nem sempre têm a recepção desejada.
      O seu comentário revela uma grande sensibilidade.
      Bom fim de semana.
      Um abraço.

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  6. Este poema tem uma cadência delicada e uma progressão que vai da entrega ao desvanecer.
    O paralelismo entre “digo-te” e “dizes-me” cria uma tensão muito bela: de um lado, o que associa amor, presença e desejo a palavras simples e absolutas; do outro, a resposta que já traz distância, efemeridade e fim.
    Gostei....

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    1. Há momentos em que as palavras já não evitam a perda.
      Obrigado.

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