Foto do autor do texto



Confesso-te que me encanta 
vestir as tuas camisas perfumadas
sei que os botões pedem a minha mão direita
a mesma que desaperta os teus botões 
e o mais que é necessário 
para tocar o lugar onde guardas o coração 
com que encho a minha mão 

confesso-te que me arrepia a pele 
vestir as tuas camisas perfumadas
e sentir ainda o teu peito sobre o meu
tive acanhamento quando comecei a gostar 
de vestir as tuas camisas mas perdi-o 
quando começaste a vestir as minhas

agora sabemos que foi assim
que nos ensinámos a viver um dentro do outro
mesmo quando estamos sem camisa. 


 


8 comentários:

  1. Me lembrei da música que gostava de ouvir (do nosso brasileirinho Roberto Carlos);
    "Os botões da blusa/Que você usava/ E meio confusa/Desabotoava "...
    O poema é todo um arrepio só ,,, Obrigada L , gostei !!

    ResponderEliminar
  2. Uma cumplicidade amorável.
    Bom feriado.
    Abraço
    Olinda

    ResponderEliminar
  3. A cumplicidade para viver em pleno o amor....
    Beijos e abraços
    Marta

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Um nível de cumplicidade difícil de alcançar nos dias de hoje.
      Um abraço.

      Eliminar
  4. O amor íntimo e a união física-emocional, expressa por troca de roupa como metáfora da intimidade e da fusão entre dois corpos e identidades. A voz directa com toques de timidez e arrepio, alternando entre o desejo e a reserva. O poeta revela sentimentos com vulnerabilidade, o que aproxima o leitor da intimidade do eu lírico. O poema apresenta uma cadência contínua, quase de prosa poética, seguindo uma dinâmica de revelação gradual do primeiro vestir, ao tocar, ao coração. A repetição de “vestir as tuas camisas perfumadas” actua como refrão temático que fixa o núcleo da experiência. Há uma tensão entre atracção imediata e a lembrança de uma fase anterior “quando comecei a gostar de vestir…” vs. “quando começaste a vestir as minhas” que culmina na ideia de uma convivência de corpos que se aprendem e se aceitam dentro da ausência ou da presença de roupas.
    Summa summarum: o poema celebra a fusão de identidades e de desejos que ocorre quando dois amantes se reconhecem como parte um do outro, um dentro do outro, mesmo na ausência de roupas — uma metáfora para a intimidade que transcende a superfície.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Brilhante comentário, como sempre. A sua análise entusiasma o próprio autor que absorve a poética expressa nas suas esclarecidas palavras.

      Eliminar