Salvador Dali (excerto)


Já sou um retrato parecido comigo mesmo
cresceu-me a pele mais do que o corpo
contra minha vontade
nada entendemos dos fenómenos químicos 
no entanto temos tudo isso nas entranhas
não sabemos nada sobre as voltas 
que a Terra dá em torno da luz e no entanto
distinguimos o dia da noite

virá o dia sem tempo 
para rever ao espelho a minha aparência 
serei então o primeiro dos que ficarem
e assim confirmarei para todos a nossa finitude
serei talvez feliz pela compensação que tiver
dos séculos que vivi em algumas décadas 
de tudo despojado nesse instante


(continua) 


 


6 comentários:

  1. POEMA sobre o tempo, a finitude e a percepção de si mesmo diante da passagem. Toca na ideia de que, quando o dia chega sem tempo, somos confrontados com a nossa aparência e a condição de ser o "primeiro" a ficar, anunciando a finitude para todos. A ideia de felicidade como compensação pelas vidas vividas em poucas décadas sugere uma existência condensada, onde o valor está na experiência, na desmaterialização de tudo no instante. É uma reflexão melancólica, mas também provocativa, sobre o que realmente importa quando o tempo aperta.

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  2. Ou talvez cobre a si próprios todo o tempo em que não viveu. Eu pelo menos faço-o ao espelho, pergunto porque deixaste, porque deixas?

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    1. Pois, mas é impossível voltar atrás, aproveitemos o tempo que falta.
      Um abraço.

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  3. Tudo acaba...até mesmo as perguntas sobre a existência....ou não...
    Beijos e abraços
    Marta

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