Foto do autor do texto




Como saldar a dívida? 


Diz-me quanto te devo

passados todos estes anos ___

___ em troca destes cabelos brancos, 

do tricô que eu fazia com os dedos

quando me enervavas

com as tuas palavras movediças, 

das dores indefinidas pela tua falta 

de dedicação ao meu corpo, 

da cessação do desejo, 

da baba quando adormecia no sofá, 

dos símbolos derrubados

pelos espasmos da tua inteligência. 


Como já não tenho tempo 

para saldar a minha dívida ___

___ fiz as malas 

com os meus desgostos e os meus remorsos

e vou partir para aquele espaço vazio ___

___ mas voltarei

nú e com uma rosa entre os dentes. 





26 comentários:


  1. E a viagem de regresso, em vez de ser feita a nado, pode muito bem ser feita num barco.
    Será que nunca deveremos desistir de tentar regressar onde já fomos felizes!?

    Beijinhos a remos
    (^^)

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    1. É uma alternativa para o regresso. Nem pensei nisso.
      Não sei se devemos regressar ao passado.
      Obrigado
      Boa Noite

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  2. As memórias, sempre as memórias de uma infância que desejou amor e colheu indiferença.
    Negligente, ou não, talvez nem houvesse desamor, mas houve certamente, uma forte razão para ter provocado essas marcas...

    Um abraço ao autor do texto e da interessante foto, ainda na mesma praia da foto anterior.

    Amanhã, voltarei!

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    1. Todos nós somos o que já vivemos. Observou bem.
      A foto é na mesma praia, sim.
      Obrigado pela indispensável visita. Um abraço.
      Até amanhã.

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  3. As memórias como bálsamo que nos fazem prosseguir o caminho da vida.
    Gostei

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  4. Recordar é viver,
    Mas o voltar ao passado
    Que está morto e sepultado
    Não é próprio para o ser
    Que anda em busca do prazer
    Pertencente ao futuro
    E mesmo distante e escuro
    É onde o prazer se acha.
    Empreendamos, pois, a marcha
    E transponhamos o muro.

    Abraço fraterno! Laerte.

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  5. Saúdo a sua primeira visita e agradeço o poema que me deixou. Visitarei o seu blog com atenção.
    Um abraço também para si.
    Boa Noite.

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  6. Se há coisas que não têm preço, o amor é uma delas. Às vezes é preciso fugir para voltar de novo. Ás vezes é preciso morrer quantas vezes for preciso até nascer sem dor... Gostei muito do poema.
    Uma boa semana com muita saúde.
    Um beijo.

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    1. Só tenho a agradecer-lhe a atenção que dispensa a este espaço e as palavras simpáticas.
      Um abraço, saúde também para si.

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  7. Se é certo que os finais dos seus poemas são frequentemente desconcertantes, este foi o mais desconcertante de todos, L.
    Confesso-lhe que não consegui reprimir uma gargalhada.

    Gosto muito do que consegue fazer com uma fotografia, do que escolhe para fotografar e da forma como transforma pormenores em figuras centrais.

    Abraço!

    PS - Estou ainda em directo com o Congresso.

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    1. Também estive em directo. No final sem som, faltou esse condimento.
      Sim, gosto de terminar com uma nota insólita. Fico contente por esse pormenor ser apreciado.
      Um abraço.

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  8. Voltei - como prometi - e reli o texto poético,
    atentei melhor no final e sorri como o não fiz
    quando o li anteriormente.

    Voltar nú(s), podemos sempre voltar, com a tal rosa entre os dentes parece-me mais difícil.
    Interpretei, e interpreto, essa parte, como um renascer ou reviver, talvez como alguém do outro género.
    O que será pouco provável, é que um recém-nascido já venha apto/a a dançar o Tango....
    A nota de humor final é sempre de sabor agradável e dispõe bem.

    Até logo! :-)

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    1. Obrigado pela segunda vinda. Percebo que a nota de humor no final é do agrado de quem lê. Agradeço a sua interpretação.
      Até logo.

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  9. Una distancia por medio, es una buena forma de recapacitar.

    Besos

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  10. A fotografia de hoje é tão fantástica, tão fascinante, tão azul, que quase esquecia o POEMA se não fosse o FINAL.
    Imaginei o POETA nú (quando era jovem) e com uma rosa entre os dentes.
    ADOREI! ADOREI! ADOREI!

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    1. A imaginação completa o texto. Foto do mesmo local da anterior.

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    2. Uma amiga alemã adora a praia Foz do Arelho.
      Eu prefiro a Praia de Moledo, mas depois de ver as duas fotografias apetece-me dar um salto até lá.

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    3. É bonita sim, e tem logo junto à praia a lagoa de Óbidos.
      Procure no Google Earth, Lagoa de Óbidos.

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  11. Bonitas palavras. Um dia voltaremos todos ao ponto de origem, nesta vida ou na outra (?) !

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  12. Que cada um se endivide
    Que cada um tenha a força
    suficiente para carregar tais malas
    Que cada um
    penetre num espaço vazio
    e o preencha
    com a flor que levar
    seja rosa
    ou outra flor qualquer

    Eu levarei um malmequer
    Ou talvez um cravo
    pois se trata de renascer

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  13. Adorei o poema.
    Voltarei nu com uma flor nos dentes.
    Estrofe que só por si vale um poema.
    Gostei da foto, tudo o que sejam barcos eu gosto, mas, para este poema eu tinha colocado outra.
    É a minha opinião que é sincera e crua, vale o que vale.
    ;)

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