Terras tristes


Está velha a minha enxada 

tem dentes do tempo 

ao contrário de mim que sou o seu dono 

ganhou-os a sacholar as pedras por engano. 

Depois desta mortandade 

há sangue no chão da semeadura. 

Velha e triste Sevilha 

onde nem os nossos irmãos de Badajoz 

se salvaram às mãos de Queipo. 

Recalco as memórias ao som de Alonso Lobo 

na catedral da minha cidade 

antes de voltar à terra. 


Tierras tristes 


Está vieja mi sacho

tiene dientes del tiempo

contrario a mi que soy su dueño

se los ganó sachando las piedras por error. 

Después de esta mortandad

hay sangre en el suelo de sembradura. 

Vieja y triste Sevilla 

donde ni tampoco nuestros hermanos de Badajoz 

se salvaron de las manos de Queipo.

Recalco las memorias bajo el sonido de Alonso Lobo

en la catedral de mi ciudad 

antes de volver a la tierra.


Tradução de Ana Duarte





 

21 comentários:

  1. Não conhecia a música de Alonso Lobo — que me lembra o Requiem de Mozart — EXCELENTE.
    Tenho de perder os meus preconceitos contra a Espanha 🇪🇸 o sangue da minha bisavó materna corre nas minhas veias.

    Um poema escrito algum tempo atrás, porque vem acompanhado da tradução espanhola.

    O desenho é de uma fina elegância.

    Publicação absolutamente perfeita.

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    1. Pois espero que reconsidere os seus afectos, ou a falta deles, a Espanha. É um país maravilhoso e a história recente de resistência ao fascismo é um período heróico.

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    2. Vou tentar — embora a Guerra Cívil de Espanha tenha sido um poço de atrocidades de ambos os lados.
      E o que me diz sobre a política espanhola actual?!

      Pois bem, ontem vi um policial espanhol excelente.

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    3. Tanto a Guerra Civil como a política actual daria uma longa conversa.

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  2. Pois também eu fiquei aqui à escuta, deliciando-me com tão nobre peça do renascimento.
    Gostei do esboço, pode não ser Badajoz, mas que tem um ar mourisco, isso sem dúvida.
    O texto, ao som da música, ganhou uma identidade temporal própria, e atravessou como um portal do tempo e recuou até ao tempo de Alonso Lobo, em pleno séc. XVI.

    Parabéns por este tríptico que me fez viajar no tempo.

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    1. É sempre compensador quando os leitores dão nota do seu agrado. O desenho é Badajoz a "Torre del Oro". Muito obrigado.

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  3. Gostei imenso do desenho, um desenho super lindo e encantador!! Muito boa continuação de maravilhosa semana para ti, muita alegria, paz e imensa saúde na tua vida, muitos beijinhos e fica bem!!

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    1. Sempre gentil na sua apreciação, muito obrigado.
      Saúde, um abraço.

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  4. Interessante dicotomia linguistica que dá diferentes leituras ao mesmo poema

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  5. Bom dia!

    Poder-se-ia apelidar este espaço com vários adjectivos, porém, jamais de entediante e repetitivo...
    Esta publicação, tripartida no melhor há em Arte, comprova o pensamento que me aflorou à mente mal aqui entrei.
    Parabéns ao seu Autor.
    (Não sei se sabe, mas tenho uma forte paixão pela Língua Castelhana)

    Um abraço.

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    1. Ainda que mal pergunte, caro Senhor das Nuvens: também anda às voltas com os festejos do centenário do PCP?
      Levanta-se de madrugada e recolhe ao pô-do-sol... :)

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    2. Para conservar e se possível aumentar o número dos meus leitores, tento diversificar os temas, agradeço que tenha reparado e que tenha feito menção.
      Fico satisfeito pela sua classificação à publicação de hoje.
      Também me encanta Espanha (muito mesmo) e o Castelhano.
      Não estou em trabalhos relacionados com os festejos dos 100 anos, deito-me tarde e levanto-me cedo porque é o meu festejo de estar vivo.
      Muito Obrigado, um abraço.

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    3. brancas nuvens negras, sais a mim, eu também me deito tarde e acordo cedo, até um pouco cedo demais, acho que é por causa dos cafés que bebo de manhã e ao almoço, agora vou deixar de beber ao almoço para ver o efeito que dá em mim, muitos beijinhos e fica bem!!

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  6. Excelente publicação, L., excelente!

    Forte abraço!

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    1. Muito obrigado, valorizo as suas palavras.
      Saúde, Um abraço.

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  7. Eu, „rainha da noite“ como me chamava o meu „deserto loiro“ deito muitíssimo tarde e levanto-me tardíssimo.
    Quando terminar o „lockdown“ já tenho que me levantar cedo.

    Vim para ler novamente o poema ao som da música de Alonso Lobo.
    O traço fino do desenho lembra-me os desenhos de Lyonel Feininger.

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    1. Gosto de Lyonel Feininger. Uma nova visita para reler, ainda assim, a leitura foi superada pelo som e pela imagem.

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  8. Ouvi e gostei!
    A aguarela está perfeita.
    O poema também, que mais posso dizer?!
    Um belo post
    :)

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