A visita anual
Quando vos espero
desembaraço-me dos meus afazeres,
ponho a mesa com tudo aquilo de que gostam,
faço as camas com os vossos lençóis de sempre,
faço a barba e visto a melhor roupa.
Depois é querer agarrar o passado
sem que ele nos caiba nas duas mãos.
Calam-se muitas palavras na garganta
mas falamos muito para nos darmos a ideia
de que vivemos ainda na vida uns dos outros.
E quando relembramos aquelas histórias da infância
contadas mais uma vez já com retoques
para serem mais ternas e terem graça
rimo-nos com aqueles curtos risos
que convivem com uma ou outra lágrima.
Ouço as vossas vozes adultas mas agudas
como se fossem as do passado.
Oculto o desejo inconveniente de vos sentar nos meus joelhos
e ao falar no que me falta viver logo o tumulto gerado
cala a seriedade da minha confissão, do meu temor
como se quisessem manter a surpresa da última visita.
Chega o momento dos abraços e dos beijos
os projectos de regresso que todos sabemos
que não sabemos quando
ou talvez um ano depois como de costume.
Fica então o silêncio, ficam as fotografias,
as camas desfeitas, o resto das migalhas sobre a mesa
e um grande vazio que não mais será preenchido.
Tivesse eu a arte e engenho necessários, seria este o poema que escreveria e dedicaria aos meus filhos.
ResponderEliminarAlguns conseguem, outros não!
E mais não digo. Não sei se me entenderá.
Fique bem.
Entendo e agradeço a sua opinião.
EliminarObrigado, Boa Noite.
Que dedicatória linda.
ResponderEliminarExala amor e compromisso.
Gostei
Muito obrigado.
EliminarDesejo-lhe um bom dia.
Viva!
ResponderEliminarJá lhe agradeci lá no meu Cantinho a sua magnífica participação (imerecida, devo dizer) no passatempo das quadras, mas, não resisto a vir bater-lhe à porta para lhe agradecer directamente. Muito Obrigada, de coração!
Desejo-lhe um bom fim-de-semana.
Fico reconhecido.
EliminarHá uma clareza encantadora em seus versos. A cada ano, as transformações ficam mais evidentes e as palavras caladas só aumentam. De resto, só as lembranças da infância.
ResponderEliminarGostei do seu esclarecido e profundo comentário.
EliminarObrigado
Há uma realidade pungente no seu poema.
ResponderEliminarFaz lembrar a reunião de família pelo Natal.
Onde todos os anos vem mais um e faltam algum que já partiu
Está tão bem escrito que até comove.
Um belo trabalho poético!
:)
O poema canta uma realidade que advém da partida dos nossos filhos.
EliminarObrigado pelas suas carinhosas palavras.